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quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Professar a fé não cala o fato


Causou-me profunda reflexão a entrevista realizada com a vereadora Ângela Guadagnin, publicada na última edição 11, Nº 38, da revista FelizCidade. A publicação não fugiu aos princípios e ideário daquilo que preconiza o seu editorial tão bem sintetizado, privilegiando o dito de Rui Barbosa ─ “A imprensa  é o dever da verdade” ─ e expondo que: “Não vamos  discutir aqui os ideologismos, mas sim deixar claro o papel da imprensa e ratificar o entendimento que a liberdade, verdade e canais abertos para posicionamentos e informações aos leitores são preceitos fundamentais do dever, de qualidade, respeitabilidade e da vida de um meio de comunicação”. Perfeito. 

O espaço editorial oportunizado para a ex-prefeita, ex-deputada federal e vereadora de São José dos Campos, Ângela Guadagnin, foi oportuno. Manifestou-se livremente. Todos os leitores de FelizCidade sabem agora que a médica e política faria tudo igual, “só não dançaria”, como integrante da Comissão de Ética no episódio da absolvição parlamentar do deputado federal João Magno, em 2006, no caso “Escândalo do Mensalão”. João Magno recebeu, sim, propina e confessou o crime publicamente, entretanto não foi cassado. Ângela Guadagnin foi a protagonista da cena mais ridícula e constrangedora ─ para não dizer infame ─ da vida parlamentar desta Nação, ao praticar a “dança da pizza” ou “dança da impunidade” naquela ocasião. Diz a vereadora que hoje ela se policia muito mais na sua atividade pública, mas repetiria a sua conduta como parlamentar em Brasília. Como deputada federal, afirma, “procurava colocar em prática todos os procedimentos de um estado democrático de direito, o que significa que uma pessoa não pode ser acusada sem antes ter sido julgada”. Tal afirmativa é falsa, manipula o ocorrido e até hoje, inacreditavelmente, a médica e política procura sustentar a inverdade. Com candura se diz “envolvida no processo”, ou seja, continua querendo fugir e escamotear a sua responsabilidade parlamentar. 

As entrelinhas da entrevista de Ângela Guadagnin, lamentavelmente, revelam que ela ainda sustenta a sua conduta de maneira inconsistente, demonstrando seu profundo descontentamento em relação à imprensa do país. Esta nunca julgou ou condenou a parlamentar Guadagnin. A imprensa noticiou e comentou fatos incontestáveis, bem como o da conduta da deputada federal, na ocasião, por ridicularizar acintosamente o povo e a Nação numa questão de propina tão grave e consistente que jamais será apagada da memória do povo brasileiro. Querer comparar a conduta vil e maléfica dos parlamentares que isentaram ─ como ela isentou ─ os envolvidos no “Escândalo do Mensalão” com aquelas praticadas hoje pelos políticos, absolvendo os ainda envolvidos em propinagens e corrupção, desmerece e desqualifica a pessoa pública e a cidadã Ângela Guadagnin. Sua postura ética é insustentável e inconveniente. Ela dizer hoje que a “mídia condena todo mundo sem dar o direito de julgamento, de defesa” é de uma leviandade comprometedora, pois o “Escândalo do Mensalão” está aí provado e comprovado. O ato que ela própria praticou é irreversível. 

Na ocasião, a então deputada federal fugiu, se escondeu e se omitiu. Ela sabia da gravidade da sua conduta. Deveria se pautar pela ética, pela moral e servir de exemplo no cargo que ocupava. Não quis ou não soube sustentar com argumentos convincentes a sua lamentável e questionável atuação parlamentar, que se revelou totalmente frágil, desrespeitosa, inconveniente e contrária aos valores morais e éticos relevados por qualquer cidadão de bem. Na ocasião, a então deputada federal defendeu a política venal, perversa, inqualificável, o compadrio político e, infelizmente, não soube honrar o parlamento brasileiro para tentar praticar mudanças necessárias à política nacional. A mobilização social para a moralização política persiste e Ângela Guadagnin parece continuar não dando a necessária e devida atenção para o fato. Mostra-se aferrada à conduta corporativista, subjuga-se aos ditames partidários e falseia os acontecimentos que não a engrandecem. 

É leviano afirmar-se que Ângela Guadagnin, como política, está a claudicar constantemente, mas o seu testemunho público pode ser considerado duvidoso e absolutamente questionável nas questões morais e éticas relevantes como a do “Escândalo do Mensalão”. Mostrar-se pessoa de fé e cristã a dignifica. Mas muitos dos seus atos praticados ao longo da vida pública não contribuem para honrá-la e engrandecê-la, quando ainda hoje a humildade e expiação dos erros se inserem como atributos necessários ao engrandecimento do ser humano. Em respeito à Nação e a todos os cidadãos de bem, a senhora Guadagnin poderia ter usufruído o tempo para realinhar coerências saudáveis, aquelas que todos esperam das personalidades e dos seus representantes públicos. Quem determinadamente escolhe a vida pública, jamais estará livre e isento dos erros e acertos que permanecerão para sempre registrados na história. A sociedade será sempre penalizada ou beneficiada com a conduta dos seus representantes. Mas há fatos que falam por si, mesmo que a pessoa professe em alto e bom som a intransigência da sua fé. O pior cego é o que não quer ver. E esta é uma questão humana, secular. Teria sido saudável saber da vereadora o realinhamento de conduta naquilo que a conduz pela vida política. Nada contra a sua fé e àquilo que a motiva como pessoa, desde que com ética em todas as instâncias. 

Carlos Karnas
20/09/11
Adendo

Como documento, abaixo artigo de minha autoria, escrito e publicado na imprensa nacional e regional em março de 2006, por ocasião da votação que livrou o deputado federal João Magno (PT-SP) da cassação. Nele destaco o comportamento da deputada federal Ângela Guadagnin ao festejar o episódio com a sua “dança da pizza” ou “dança da impunidade”. O ocorrido ficou conhecido nacional e internacionalmente para a tristeza da Nação e do povo brasileiro.

E a deputada dançou

E a médica deputada federal Ângela Guadagnin (PT-SP) dançou, quase uma dança tribal, desengonçada para um plenário comprometido, que deveria ser austero, respeitoso, nobre, justo, imaculado e à serviço do país: o Congresso Nacional. Ela festejou a impunidade explícita de deputado do seu partido João Magno. E as câmeras de televisão captaram o espetáculo solitário da deputada inconveniente, arraigada em princípios e ética absolutamente questionáveis, cumprindo o viés amargo de defender aquilo que não pode ser defendido diante do tamanho de provas inquestionáveis que recaem sobre os parlamentares envolvidos nos escândalos de propinas, o mensalão. Para o Vale do Paraíba, São Paulo e para a Nação, eis a postura infeliz de uma representante do povo, este, que só pode assistir com incredulidade tamanho gesto de desrespeito, quando valores nobres são defenestrados pelo corporativismo partidário e parlamentar. Viu-se nos últimos meses, valores morais festivamente pisoteados por quem emperrou o esclarecimento e a elucidação de fatos criminosos, por quem não prestou serviço isento e eficaz para salvaguardar a moral, a honestidade, honra e justiça na política, mesmo dentro de um Conselho de Ética Parlamentar. O que restou do partido político da deputada, seguramente, canta hosanas e aplaude o espetáculo deprimente de uma vitória absolutamente duvidosa de parlamentares comprometidos com o crime e que envolvem o atual governo. Mas o povo brasileiro, esta Nação, bem que poderiam presenciar gestos de maior magnitude cívica daqueles que são exibidos na confraria das pizzas. Talvez, liberta do comprometimento em gestão executiva, como ex-prefeita de São José dos Campos, a nobre deputada agora tenha maior desenvoltura para dançar descompassada, como títere, pois na administração pública cambaleou no seu protegido gabinete de trabalho, na prefeitura de São José dos Campos, onde imperou a fragilidade, a falta de energia, a atitude medrosa, insensata, até covarde e subserviente aos descomprometidos com o bem-estar da cidade. A carreira política da deputada pode ser favorável somente para as alas internas e sinistras do seu partido, nunca para o bem público, com o objetivo de dignificar o país e para honrar o voto do povo que a elegeu. O pedido de desculpas, pronunciado por sua assessoria, em nada desfaz o gesto praticado, carregado de intenção provocativa e malévola ingenuidade. Aliás, o que dizer mais da deputada? Onde está a sua grandiosidade pública e parlamentar? Ela existiu em algum momento? Na Caixa de Pandora da deputada, nem esperança sobrou. Dançou. E nós todos pagamos por isso. Até quando?

Carlos Karnas
23/03/06

Um comentário:

  1. Por que perder tempo com esta senhora? Ela não vale mais um tostão furado no contexto dos cidadãos de bem. Não foi ela escudeira do bandido José Dirceu? Pois que os dois façam o seu próprio faroeste.
    V.M.L

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