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quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Para começo de conversa - 6 21/09/2011

Entrevista publicada esta semana na revista FelizCidade, da Primeira Igreja Batista de São José dos Campos - SP, me chamou atenção. A ex-deputada federal Ângela Guadagnin (PT-SP) ocupa espaço editorial da revista para falar sobre a sua religiosidade, sua crença e sobre política. A senhora Ângela Guadagnin foi a protagonista da "dança da pizza" ou "dança da impunidade!" no plenário da Câmara Federal em Brasília, na sessão que se prolongou até a madrugada de 23 de março de 2006, para a votação da cassação do deputado federal João Magno (PT-SP), envolvido no escândalo do mensalão.

A parlamentar da "dança da pizza"

A médica carioca Ângela Guadagnin (PT) vive ha muitos anos em São José dos Campos - SP. Nessa cidade milita politicamente. Foi vereadora, prefeita e deputada federal pelo PT. Atualmente exerce novamente a vereança na cidade. Mas o episódio mais constrangedor da vida pública de Ângela Guadagnin foi a sua "dança da pizza" ou "dança da impunidade", aquela que praticou no plenário do Congresso Nacional, em março de 2006. O Brasil assistiu e se indignou com o comportamento escandaloso, grotesco e inconsequente da deputada federal. Uma cena deprimente e constrangedora.

Escândalo do Mensalão

Naquela época, 2005/2006, Ângela Guadagnin integrava a Comissão de Ética da Câmara e o Brasil inteiro se escandalizava com as propinas graúdas que enchiam os bolsos de partidos, políticos e autoridades do governo. O mensalão envolvia astuciosa e gigantesca rede de corrupção para a compra de votos de parlamentares. Beneficiavam-se o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, os partidos políticos da base aliada, parlamentares corruptos, bancos e empresas de todas as grandezas. O presidente Lula afirmava nada saber, invariavelmente. Mas a grossa contravenção permitiu ao Partido dos Trabalhadores se favorecer do desvio de dinheiro público para pagar periodicamente propina a parlamentares da base aliada do governo.

Um livro é pouco para historiar o mensalão

O escândalo do mensalão se arrasta até hoje, praticamente, e está provado e comprovado em todas as instâncias. Parlamentares perderam o mandato, ministros e assessores diretos do presidente Lula saíram do governo, bancos e empresas ficaram expostos por participarem da rede de corrupção, a Polícia Federal investigou e o Supremo Tribunal Federal acolheu o manancial de acusações. Mais não pode ser feito para o esclarecimento total do escândalo, graças ao empenho e ao trabalho diligente dos partidos e dos políticos envolvidos, com o apoio de advogados que manipulam a lei. Eles aviltaram todos os procedimentos morais e éticos. Foi a imprensa que levantou a ponta do tapete que escondia toda a sujeira corrupta do mensalão, a partir das imagens de pagamento de propina nos Correios. O deputado federal Roberto Jefferson, presidente do PTB -- partido altamente comprometido no recebimento de propinas --, se encarregou de alardear o grosso do escândalo político, acusando o então Ministro Chefe da Casa Civil, José Dirceu, de ser o mentor do mensalão. A partir de então o escândalo se maturou de maneira incontestável para ficar exposto à nação e ao povo brasileiro. No mesmo pacote da corrupção ficaram relacionados os escândalos dos Correios, Bingos e o caso Celso Daniel -- prefeito petista de Santo André - SP, assassinado misteriosamente. Nomes de autoridades e de parlamentares envolvidos são tantos e o gigantismo da rede de corrupção tão fantástico e intrincado, que um livro é pouco para ser registrada essa história. Ela compromete o exercício partidário e político no Brasil e envergonha o cidadão de bem.O pior é que a prática da propina não está banida. É persistente na política brasileira, no governo federal, nos Estados e municípios. O último caso mais visível é o do DEM em Brasília.

Para não se esquecer

Na Câmara Federal foram denunciados diversos parlamentares favorecidos com as propinas que ajudavam a salvaguardar atos governamentais e a engordar cofres das campanhas políticas. Entre os parlamentares estava o deputado federal João Magno (PT), que deveria ser cassado, mas se livrou do pior. E a deputada federal Ângela Guadagnin, mesmo participando da comissão de Ética da Câmara e diante de todas as evidências, não teve pruridos de comemorar o resultado da votação parlamentar, dançando em plenário. As imagens do ridículo, o Brasil e o mundo viram. João Magno é réu confesso: confirmou ter recebido propina do mensalão. O escândalo do mensalão pode ser considerado o maior e mais desavergonhado esquema de propina e corrupção estabelecido no governo e no Congresso Nacional, envolvendo políticos, autoridades, prefeitos, ministros, partidos e empresas de todas as grandezas. Ângela Guadagnin foi conivente com o escândalo.

A deputada cai em desgraça

Apesar de não envolvida no mensalão, Ângela Guadagnin é afastada por um dia do Conselho de Ética da Câmara, punida pela sua conduta na "dança da pizza". Depois foi censurada formalmente pelo presidente da Câmara, Aldo Rebelo (PC do B - SP). No dia 9 de maio pediu o “afastamento definitivo” ao renunciar ao Conselho de Ética. Ela discursou e se declarou “magoada” com a hipocrisia da imprensa e de alguns parlamentares. Magoou-se sem razão, diante da sua conduta imprópria e conivente com os escândalos todos aflorados. Passados mais de cinco anos, a senhora Ângela Guadagnin teve nova chance de explicar a sua conduta, nas páginas 7 e 8, edição 11, Nª 38 da revista FelizCidade. Entretanto, é duvidosa a sua fala. Os editores da publicação receberam meus comentários, expostos a seguir.

6 comentários:

  1. A exposição fundamentada neste blog é pertinente. Ângela Guadagnin ainda querer justificar e sustentar a sua conduta, quando deputada federal e integrante da comissão de Ética da Câmara, é absurdo e revoltante. O episódio realmente jamais será esquecido. Sério e elucidativo este blog.
    Ariovaldo Junqueira
    São Paulo - SP

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  2. E infelizmente a população de São José dos Campos elegeu Ângela vereadora, depois de tudo o que ela aprontou. O povo não aprende mesmo.
    Maristela de Mattos

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  3. Altamente esclarecedor o post desta semana. Por que será que a nossa imprensa não oportuniza esse tipo de informação, consistente e qualificada? Está dito no blog: a dança da pizza é vergonha irreversível e o escândalo do mensalão jamais será esquecido.
    Rogério Kaplansky

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  4. Karnas. Parabéns. Estou enviando para alguns contatos meus que, estou certo, irão multiplicar.
    Abraços e continua sentando a pua...
    L. C. Vaz
    Porto Alegre

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  5. Seu blog, caro Karnas, é altamente qualificado. Em curto espaço de existência, todos os artigos merecem leitura atenta e dedicada reflexão. Você não pisa na bola mesmo. Minha admiração. Parabéns.
    Luiz Fernando Vendrami Jr.
    Brasília

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  6. A ex-integrante da Comissão de Ética da Câmara, no episódio da "dança da pizza", agiu com o escárnio próprio dos políticos que zombam de nós, pobres eleitores, e se gratificam com a impunidade. O caso recente registrado em Taubaté é um exemplo de como nossas instituições estão apodrecidas: Poder Judiciário em conluio com o Poder Executivo e o Poder Legislativo dando "legalidade" à inação judiciária.

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