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sábado, 20 de agosto de 2011

Faxina no lixo de Taubaté

Taubaté não poderá conviver indefinidamente com a imoralidade, a corrupção, com atos destrambelhados e a impunidade que recaem sobre a atual administração municipal de Roberto Peixoto (PMDB). O prefeito livrou-se da cassação no último dia 12. A sessão extraordinária da Câmara de Vereadores foi fraca, insossa e incompetente. Desqualificou as provas incontestáveis da comissão especial de inquérito da ACERT aprovada por unanimidade em 2010. Votos de seis vereadores – Ary Kara José Filho (PTB), Francisco (Chico) Saad (PMDB), Henrique Nunes (PV), Luiz Gonzaga Soares (PR), Maria Teresa Paolicchi (PSC) e Rodson Lima Silva (PP) – impediram a cassação de Peixoto – eram necessários 10 de 14 votos –, também impediram a imediata limpeza e higienização do executivo municipal. Independente, a Câmara deveria se enaltecer em momento histórico. Rebaixou-se.

Dinheiro. Cédulas de reais foram abanadas por mãos de manifestantes na cara dos vereadores. Gesto explícito de indignação e protesto pela não cassação do prefeito. Zombaria conclusiva que sintetiza a venalidade na política taubateana. Corrupção – provada e persistente – é a marca mais saliente da atual administração. É ela que enfeitiça, por certo, vereadores a favor do prefeito.

O que o colegiado político deveria ter feito, e não o fez, deixou para a Polícia Federal e para o Poder Judiciário. A reconquista da dignidade e a lavagem da honra de Taubaté estão na ação independente e necessária da autoridade que o município não possui. Restou para o cidadão de bem de Taubaté confiar na instância de instituições federativas, que não precisam se intimidar e se subjugar à elite do poder político local.

Foi rápida a ação da Polícia Federal para vasculhar o que está escondido embaixo do tapete, justamente o lixão da cidade. No aterro sanitário a autoridade policial, terça-feira, revirou entulho para buscar provas escamoteadas que incriminam Peixoto e a sua administração, a pior da vida de Taubaté. Se os fatos, as evidências e todo o resto que é venal e referentes ao prefeito não existissem, nada disso estaria acontecendo. É humilhante para Taubaté e população. Todos estão expostos à ridicularização nacional. Lamentável, ninguém de bem merece.

O prefeito, sua administração, seis vereadores e a elite de mando político da cidade estão moralmente falidos. Continuarão ridicularizados na voz popular. Desqualificados e sem personalidade não merecem respeito, muito menos exercem autoridade junto ao Estado e governo federal. Nada de relevante acontecerá até a próxima eleição. Advogados e a máquina administrativa continuarão blindando o prefeito e falcatruas. A cidade continuará entregue à sua própria sorte, com dinheiro e patrimônio se esvaindo para longe do bem comum. Permanecerão as singelas aparências de trabalho e realizações pífias. A cidade continuará correndo graves riscos e a ser prejudicada em futuras decisões político-administrativas. A arrogância e a prepotência do poder executivo não se dissiparão. O segredado entrelaçamento do executivo com o legislativo mantém a elite viciada no poder. Tal expressão é do próprio Roberto Peixoto, escrita por ele em mensagem dirigida ao povo de Taubaté semana passada. Pois ele continua no cargo. O seu grupo político o protege, interfere, manipula as brechas da lei, alimenta os interesses não explícitos de vereadores, subjuga o servidor municipal abnegado e coopta lideranças comunitárias vulneráveis. Tudo compromete Taubaté. O município não sai ileso do episódio da não cassação de Peixoto. A ferida política continuará exposta, purgando até o final e além do mandato dele. Mesmo que o resultado da votação da cassação fosse outro, desfavorável a Peixoto, as dificuldades seriam expressivas e o revanchismo tenderia a ser igualmente danoso. Mas o PT, que assumiria a prefeitura, também poderia fazer a faxina necessária, executar boa administração, receber ajuda federal e se fortalecer para a próxima eleição. E esse partido mostrou-se fraco. Lideranças petistas locais e regionais se acovardaram, fecharam os olhos, se omitiram na defesa de Taubaté. Favoreceram o prefeito corrupto e o PMDB local. Deixaram a vice-prefeita entregue à sua própria sorte.

Peixoto está no trono mas não terá vida fácil. Carregará o volumoso peso de acusações por crimes que cometeu e comete. No legislativo, suas irregularidades e improbidades administrativas foram provadas publicamente e ele não foi cassado. Na mídia, o noticiário não deixa dúvidas e ele não é levado a sério. Na Justiça, dezenas de ações do Ministério Público seguirão o trâmite lento e gradual até o julgamento final. Na Polícia Federal, há ação efetiva e segue a apuração do seu crime contra a economia e do mau uso de verba federal. Mais adiante haverá o Tribunal de Contas para esmiuçar atos e a contabilidade do prefeito, longe de ser fechada e referendada. O pior para Peixoto – e vereadores que estão nas suas mãos – são os estigmas: corrupto, sem honra, desonesto, falso, incompetente, imoral, venal. A pior pecha não o abandonará. Ele sempre será olhado com desconfiança e desprezado pela sua truculência. Na Câmara, poderão prevalecer movimentos mascaradamente intransigentes, mas as relações com o executivo continuarão canhestras, duvidosas e perigosas. O pior estará sobrando para quem? Há vergonha? Há vencedores? Taubaté não merece.

Carlos Karnas
16/08/2011

Este artigo foi disponibilizado para publicação no jornal O Vale (SJC), Jornal Contato (Taubaté), Blog de Irani Lima e saite de Mario Ortiz

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