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sábado, 20 de agosto de 2011

Sem vencedores, abanam as cédulas

Dinheiro. Cédulas de reais foram abanadas por mãos de manifestantes nas caras dos vereadores de Taubaté. Foi esse o gesto definitivo de indignação, de protesto pela não cassação do prefeito Roberto Peixoto (PMDB), na madrugada de sábado, na Câmara Municipal de Taubaté. Uma zombaria conclusiva para sintetizar com o quê parte dos vereadores estão comprometidos na política taubateana. Corrupção – provada, comprovada e ainda persistente – é a marca mais saliente da atual administração municipal. É ela que enfeitiça, por certo, os vereadores Ary Kara José Filho (PTB), Francisco (Chico) Saad (PMDB), Henrique Nunes (PV), Luiz Gonzaga Soares (PR), Maria Teresa Paolicchi (PSC) e Rodson Lima Silva (PP). Foram esses que votaram contra a cassação do prefeito e seus destinos políticos estão selados. Na sessão extraordinária que durou mais de 13 horas não houve calor e produtivo confronto entre contendores, mas um significativo acompanhamento do ritual legislativo. A dinâmica de debates foi esvaziada por prevalecer o imposto por advogados de defesa de Roberto Peixoto. Candidamente, a direção da Câmara acatou-o. Subjugou-se e a sessão histórica se arrastou manhosa e cansativamente para o final previsto, sem surpresas. Safadeza e perda de tempo.

Entretanto, respeitar a vontade dos que safaram o prefeito Roberto Peixoto da cassação, é contestável. Nebuloso. Não existe. O espesso novelo político taubateano é extremamente emaranhado para se identificar a ponta do fio condutor. O sentimento público é que não foi feita justiça. Livrar o prefeito da cassação foi decisão definida nos bastidores políticos, mesmo com a maioria de oito vereadores votando a favor da saída dele– eram necessários 10 votos. Qual o custo desta conta? Quem a está pagando ou já pagou? Quem arrisca o palpite?

Manter Peixoto no poder não o livra dos seus crimes, nem da má gestão e das irregularidades administrativas que o condenam. Ele e Taubaté continuarão expostos à ridicularização pública nacional. Peixoto é zombado, está desmoralizado, continuará covarde e sem representatividade. É artífice do pior governo que Taubaté teve. Ele ainda permanecerá no trono, mas a sua honestidade, honra, dignidade, caráter e competência continuarão enlameadas no terreno frágil que o desqualifica. O volume de denúncias permanecerá ativo e prensando o prefeito no paredão. Nela a palavra corrupto está pichada com letras garrafais. E o político, mesmo com toda a sua religiosidade para pagar promessas na basílica de Aparecida, sabe das dificuldades que estão impostas para que ele mereça respeito e exerça o cargo. Essa referência é importante. Baliza relações, entendimentos, negociações e confianças recíprocas às alianças necessárias. É de se duvidar de tudo.

Na confusão estabelecida, o prefeito de Taubaté está despojado de atitudes e civilizadamente continuará sendo ridicularizado nas suas relações locais ou com autoridades do Estado e governo federal. A sucessão e acúmulo dos seus crimes não se desencantam. Continuarão documentados no ritual do judiciário que, cedo ou tarde, dará uma sentença. Nesse meio tempo, o legislativo municipal continuará amorfo. Novas ações políticas poderão surgir, talvez, visando o destino de Peixoto para fora da prefeitura. Contudo, está escancarada a porta do caráter daqueles vereadores que exercem o cargo afinados com os interesses do município e daqueles servilistas que ocupam o cargo em proveito pessoal.
 
Há relação simbiótica entre o legislativo e o executivo de Taubaté. Trata-se de viciado jogo de interesses político-pessoais que todos identificam mas nunca se é possível provar, de tão artimanhoso que ele o é. A limpeza ética e a moralização política necessárias ao município não evoluem por falta de transparência, honestidade e caráter entre os próprios políticos. A população também está passiva. Não foi arrebatadora a mobilização popular no dia 12. Naquele dia o cidadão de bem tratou de cumprir as suas obrigações de trabalho, sabendo de antemão o que iria acontecer. Aconteceu. Ele está abandonado, desiludido e envergonhado com o que acontece em Taubaté. As suas vontades são desprezadas no jogo político do poder municipal.

É fácil admitir que a atual administração de Taubaté está moralmente falida. A administração de Peixoto é venal, incompetente e não tem mais conserto. Nada de relevante acontecerá até a próxima eleição. A máquina administrativa continuará movimentada para blindar as falcatruas do prefeito. A cidade continuará entregue à sua própria sorte e o dinheiro se esvaindo para longe do bem comum. Permanecerão as singelas aparências de trabalho e de realizações pífias. Provavelmente a cidade continuará a correr graves riscos e ser prejudicada em futuras decisões político-administrativas. A arrogância e a prepotência do poder executivo não se dissiparão. O segredado entrelaçamento do executivo com o legislativo mantém a elite viciada no poder. Tal expressão é do próprio Roberto Peixoto, escrita por ele em mensagem dirigida ao povo de Taubaté semana passada. Pois ele continua no cargo. O grupo político dele o protege, interfere, manipula as brechas da lei, alimenta os interesses não explícitos de vereadores, subjuga o servidor municipal abnegado e coopta lideranças comunitárias vulneráveis. Eis o quadro que compromete Taubaté e o cidadão honesto. Essa população não festeja o resultado da última sexta-feira. O município não sai ileso do episódio. A ferida política continuará exposta e purgando até o final do mandato de Roberto Peixoto. As consequências desastrosas levarão tempo para serem dissipadas. Mesmo que o resultado da votação da cassação fosse outro, desfavorável a Peixoto, as dificuldades também seriam expressivas e o revanchismo tenderia a ser igualmente inconsequente e danoso. Mas o PT, que assumiria a prefeitura, também poderia fazer a faxina higiênica necessária, executar boa administração, receber ajuda federal e se fortalecer para a próxima eleição. Tudo o que não convém para os caciques conhecidos da cidade.

Peixoto está no trono mas não terá vida fácil. Carregará o volumoso peso de acusações por crimes que cometeu e comete. No legislativo, suas irregularidades e improbidades administrativas foram provadas e comprovadas publicamente e ele não foi cassado. Na mídia, o noticiário documentado não deixa dúvidas e ele não é levado a sério. Na Justiça, dezenas de ações patrocinadas pelo Ministério Público seguirão o trâmite lento e gradual até o julgamento final. Na Polícia Federal segue a apuração do seu crime contra a economia e do mau uso de verba federal. Mais adiante haverá o Tribunal de Contas para esmiuçar atos e a contabilidade do prefeito, longe de ser fechada e referendada. O pior para Peixoto é o estigma de corrupto, a falta de honra e credibilidade. Essa pecha não o abandonará, ele sempre será olhado com desconfiança e desprezado pela sua truculência. Os vereadores poderão fazer prevalecer movimentos constantes e mascaradamente intransigentes, mas as suas relações com o executivo continuarão canhestras, duvidosas e perigosas. O pior estará sobrando para quem? Há vergonha nesse episódio? Há vencedores?

Carlos Karnas
14/08/2011

Este artigo foi disponibilizado para publicação no jornal O Vale (SJC), Jornal Contato (Taubaté), Blog de Irani Lima e saite de Mario Ortiz

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