Páginas

sábado, 20 de agosto de 2011

Sem noção do perigo

O Vale do Paraíba parece estar perdendo a noção do perigo. A população da região mais rica do eixo São Paulo-Rio é paciente e se mantém refém da ação política inescrupulosa. As administrações de importantes municípios, por mais que escondam, não conseguem abafar sucessivos escândalos. As Prefeituras de Taubaté (a campeã), Pindamonhangaba, Lorena, neste momento, revelam-se envoltas em gravíssimos atos criminosos de propinas, corrupção e má gestão do dinheiro público. Os prefeitos não conseguem ser convincentes, abafam como podem as irregularidades, desqualificam o protesto popular e se valem de artifícios jurídicos para se manter no poder. Na desonestidade, contam com a conivência de vereadores servis e são protegidos por elites de mando locais. Assumem atitudes autoritárias e perversas, mascarando a obrigação de prestar contas do que fazem errado. Mentem.

As lideranças comunitárias e das instituições, que representam a base civil de desenvolvimento e progresso dos municípios, poderiam ter participação ativa e ajudar no processo de moralização daquilo que é venal e criminoso. Não o fazem. Espertamente calam-se. Observam qual o rumo dos acontecimentos para conseguirem mais alguma vantagem particular, aquela que não se identifica adequadamente ao bem comum. Os partidos e seus políticos fogem de confrontos produtivos e nem mesmo se movimentam no sentido de apoiar vereadores ou a própria base eleitoral. Preferem as negociações artimanhosas, camufladas, que não são reveladas explicitamente. A opinião pública pouco ou nada fica sabendo. Desinformada e abandonada não age.

Tal cenário impregna, de certa forma, o social brasileiro. Entretanto, o Vale do Paraíba revela características preocupantes. A indignação popular, mesmo com expressividade, não consegue enrubescer a cara ingênua e cínica de prefeitos, e de vereadores, emaranhados no perfil dos roubos e da corrupção. Os municípios e seus habitantes estão sendo roubados sim, desprezados e enganados. Faltam políticas públicas. A educação, saúde e segurança não convencem e os problemas sociais existentes assumem proporções catastróficas. Há sangria nos patrimônios municipais e nas negociações escandalosas de doação de áreas e na guerra fiscal. Não há efetivo empenho dos legislativos municipais para dar basta às criminosas malversações existentes. A ação política não passa de compadrio. Há herança amarga, talvez impagável, deixada irresponsavelmente pelos atuais administradores municipais do Vale do Paraíba. A ética e a moral são qualidades que não compõem o juízo desses governantes e parte dos políticos ainda em ação.

A população civil deveria se dar conta, definitivamente, do grau de manipulação que a atinge. Está na hora de dar basta. Não fosse a imprensa mais independente a noticiar escândalos e corrupções, o cenário seria bem pior. E o rumo ordenado, a busca por justiça, a determinante higienização e moralização tão necessárias nas Prefeituras, fogem do comando local. Há omissão, covardia e ganância de prefeitos e vereadores que não honram seus cargos públicos. Abandonada e desprotegida, a população necessita cada vez mais da força de instituições federativas, em outras alçadas, e das intervenções que são praticadas pelo Ministério Público, pelo Judiciário e com ações decisivas da Polícia Federal, para que os crimes praticados por governantes sejam qualificados e os responsáveis punidos. É o que acontece, justamente, em Taubaté, para a vergonha e desmoralização da cidade. Graças a pior e mais corrupta administração da história, a de Roberto Peixoto (PMDB), Taubaté é ridicularizada em todo o país.

O Vale do Paraíba nunca esteve politicamente tão mal representado nas esferas estadual e federal. Mesmo sendo da região, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), pouco ou nada faz nesta sua base. O partido do governo da presidenta Dilma Rousseff, e os demais que lhe dão sustentação, mostram-se vulneráveis, acovardados e inoperantes para atender e garantir sucesso às pretensões da população valeparaibana. Não há partido impune e livre de maracutaias.

Há persistente criminosa ação política em curso. Problemas sociais adquirem grandezas expressivas e inexistem medidas para solucioná-los. Há queixas e decepções de todas as grandezas e lugares. A sociedade não consegue se impor e os governantes se satisfazem nas suas incompetências. Locupletam-se, nada fazem, lavam as mãos. No Brasil a corrupção é protegida por lei. Tal concepção é de estudiosos e foi conclusiva no encontro da Convenção de Combate à Corrupção das Nações Unidas (Uncac) com o governo e a sociedade civil, há 15 dias em Brasília. Foram apontados três ‘pontos negros’ da guerra aos corruptos: falta de leis; responsabilizar as empresas, e não só as pessoas físicas por tais irregularidades; e proteção de quem denuncia a corrupção. Portanto, a diretriz para o combate ao crime de corrupção está delineada. Mas, se não há lei, não há punição. A sensação de impunidade está impregnada no Vale do Paraíba para o desespero do cidadão de bem.

Carlos Karnas
18/08/2011

Este artigo foi disponibilizado para publicação no jornal O Vale (SJC), Jornal Contato (Taubaté), Blog de Irani Lima e saite de Mario Ortiz

Nenhum comentário:

Postar um comentário