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sábado, 20 de agosto de 2011

A emblemática política de Taubaté

Ao revelar o que nunca o fora anteriormente – “Vocês sabiam que um ministro de Brasília mandou-me soltar e ainda disse que eu não tinha cometido crime nenhum para ser detido e ter minha casa revirada pelos policiais?” –, o prefeito de Taubaté, Roberto Peixoto (PMDB), expõe o que pode ser considerado espantoso e a questionável interferência entre poderes da federação. Se ministro interferiu e – como ele diz – determinou à Polícia Federal soltá-lo após prisão, deve-se entender que houve manobra e interferência ministerial indevida, no mínimo estranha. Houve ação autoritária de Brasília para desqualificar os executores da lei e o Poder Judiciário em caso municipal. Será? A ação da Polícia Federal não se dá à revelia da lei ou sem flagrante. Toda detenção ou prisão de envolvidos e suspeitos em atos criminosos para investigação é fundamentada em antecedentes amparados na lei, por determinação do Ministério Público e com o aval de magistrados. Ainda mais se tratando de homem público. Na mensagem de ontem, neste espaço Ideias& de O Vale, o prefeito de Taubaté, maliciosa ou ingenuamente, expôs a sua maneira de agir: vale-se de barganhas políticas, de instâncias superiores incógnitas e nunca revela honesta e abertamente aqueles que o anteparam ou o condenam. Portanto, sua revelação é altamente preocupante para toda a sociedade civil à margem dos acontecimentos. Como pode um ministro do Poder Executivo julgar o que compete ao Poder Judiciário e ao trabalho de investigação policial federal? Se fato verdadeiro, como escreveu o réu Roberto Peixoto, é emblemático, perigoso e constrangedor. Um sinal da vulnerabilidade das instituições do país.
 
De certa forma, o prefeito de Taubaté, enfim, expõe publicamente a sua estranha forma política de agir, valendo-se de compadrios, do seu grupo político, do poder do seu cargo público, subjugando servidores municipais, valendo-se de advogados que executam manobras e manipulações nas brechas da lei e escamoteando provas que o incriminam. Isso ficou claro no ritual da comissão processante da Câmara de Vereadores, na auditoria e sessões públicas que provaram e comprovaram as irregularidades administrativas praticadas por Roberto Peixoto. A cidade foi lesada e é mal administrada. Nesta sexta-feira, justamente, a mesma Câmara Municipal se reúne para decidir a sua cassação. Dez votos de vereadores tiram o prefeito do cargo.

Nesse processo, ao contrário da mensagem do prefeito publicada ontem, não há político anônimo ou elite viciada no poder. Não há porque é Peixoto que está no cargo e os vereadores que entendem necessária a sua cassação são conhecidos. Os indecisos e escamoteados são aqueles vereadores que praticam manobras subterrâneas no sentido de tumultuar, mascarar as irregularidades e contravenções existentes na Prefeitura de Taubaté, da escandalosa administração de Roberto Peixoto. A mídia e as constantes manifestações populares, com faixas e cartazes nas ruas, documentam a contrariedade e repulsa aos atos praticados pelo prefeito, taxado de corrupto. É público.

Taubaté sofre esta vergonha nacionalmente. Ela não merece. Não houvesse indícios de irregularidades e provas incontestáveis delas, nada do que ocorre estaria estabelecido da forma como está. Não haveriam dezenas de ações do Ministério Público e de entidades civis contra o prefeito. Portanto, o desenvolvimento, a harmonia, o bom e histórico nome de Taubaté estariam preservados. Isso não ocorre. A ganância está, sim, no chefe do executivo que peca religiosamente no exercício do mandato e despreza e humilha a vontade popular. Roberto Peixoto mente e diz falsa verdade ao afirmar que nada está comprovado contra ele. No legislativo está de todas as formas. No judiciário, as ações seguem o ritual para a conclusão final. Enquanto isso, a Prefeitura está paralisada, voltada somente para a blindagem do prefeito. A hegemonia municipal está nas mãos do cidadão honesto e trabalhador. E hoje será decidida a cassação do prefeito. Aqui não há golpe contra a democracia, mas ação de moralização. Não há como Roberto Peixoto não ser cassado. 
 
Carlos Karnas
12/08/2010

Este artigo foi disponibilizado para publicação no jornal O Vale (SJC), Jornal Contato (Taubaté), Blog de Irani Lima e saite de Mario Ortiz

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